
Tentando dissolver as brumas que encobrem o assunto: a Wicca é o nome dado para antiga religião praticada pelos povos Celta, também conhecida como bruxaria ou a “Arte”.
Como sua origem é européia não tem relação, exceto algumas similaridades, com práticas de povos orientais, africanos ou indígenas, muito embora coexista tranqüilamente com estas, pois respeita o que de melhor cada povo desenvolveu.
É uma religião, filosofia e estilo de vida, transmitida por tradição oral, muito embora possuíssem escrita, os Celtas não usavam a escrita para registrar ou fixar seus procedimentos, pois consideravam que escrevendo limitavam o desenvolvimento desta religião, que tendo uma linha diretriz poderia ser maculada pelas contingências, valores, conceitos e até mesmo interesses de uma época.
Esta falta de um código escrito possibilitou a ocorrência de duas coisas; uma muito positiva, a sua evolução e atualidade, pois tendo crescido em células familiares se desenvolveu sem grandes pretensões de atingir o grande público, mantendo também sua essência. Outra conseqüência foi que se criasse e atribuísse a Wicca conceitos, práticas que não lhe pertenciam, o que é bem óbvio para quem entende o seu cerne e sabe que muitas vezes colidem, mas que para o grande público passa imperceptível, incorporando práticas de outras tradições, talvez com intuito de completá-la, só que ela é completa.
É difícil aceitar como positiva esta miscelânea, pois cada tradição é o substrato filosófico e espiritual de uma cultura, liga cada povo à sua Egrégora, ou melhor, explicando, quando praticamos as tradições de nosso povo reforçamos os laços de identidade cultural, vínculos com o plano espiritual correspondente e com nossos mentores. O ecletismo forma uma cultura homogênea que nivela por baixo, para ter aceitabilidade, mutila conceitos e valores de suas tradições de origem transformando-as em meras práticas para o alcance de objetivos bem distantes do conteúdo espiritual a que se destinavam primordialmente, não promovendo, portanto, nem crescimento, nem equilíbrio e nem espiritualidade.
A propósito deste tema, esta miscelânea espiritual, o filósofo americano Ken Wilber denominou este processo de adoção seletiva de alguns valores e conceitos de uma filosofia para a sua aplicação fora de contexto, de “Boomerite” para ele este fenômeno apareceu com a geração pós guerra ( os Baby Boomers) , que pretendendo entender os valores orientais, adotaram práticas como a meditação budista buscando a iluminação e transcendência que as religiões do Ocidente não promoviam, só que desconsiderando o fato de que estas práticas vem de um contexto de valores e costumes de um povo que são impraticáveis no mundo ocidental, praticas assim fora de contexto criam um falso verniz de consciência e evolução sem desatar nós internos.
De modo que sendo a Wicca uma tradição ocidental é uma fonte mais fácil de ser assimilada por ocidentais.
Não que isto signifique que seja superior, ou melhor. A Wicca não é uma religião de massa, seu caminho é para os buscadores individuais que estejam dispostos a desenvolver a consciência, a identidade e a conexão com a própria alma.
A Arte é freqüentemente associada a feitiços, ritos para a obtenção de algo, como se sua finalidade fosse exclusivamente esta, uma interpretação errônea do fato de utilizarmos materiais e o auxilio de força elemental de plantas, pedras, fogo etc. em rituais, por que desenvolvemos a capacidade de acessar a consciência presente em tudo, interagimos com ela podendo, também pedir o auxílio.
A prática da magia é uma conseqüência de longos anos de treino para o desenvolvimento da consciência, a percepção de universos paralelos e a criação do que chamamos de personalidade mágica, um senso de identidade ampliada que suplanta a comum. Assim, a mera execução de feitiços descritos em livros ou sortilégios não são operações de magia é preciso estar habilitado para executá-las, aliás, quando se está habilitado nem é preciso executa-las.
O desenvolvimento da percepção nos habilita a lidar com experiências de limiar ,ou “entre mundos”(momentos ou situações de transição como fases da Lua, as estações do ano e seus quartos,chamados festivais entre outros incluindo transições pessoais, fases de crescimento etc.). Esta percepção traz consigo a capacidade de avaliar com reverência o poder contido nestes momentos como portais.
O desenvolvimento da consciência é um tanto parecido, pois através da consciência acessamos estes portais. A consciência não se forja senão com empenho, não se pula etapas, não se acessa um determinado portal com a exceção de um rito se não houver desenvolvido a consciência necessária para assimila-lo , quanto muito, o que pode acontecer é que se tenha impressões distorcidas, maculadas pela própria ignorância e dificuldade em interpretá-las, não trazendo nem crescimento, nem evolução, pelo contrário pode causar desequilíbrio psíquico, como no caso de alucinações, medos etc., resultados comuns em praticantes inexperientes que querem alçar vôos mais altos sem a devida competência.
A personalidade mágica é o resultado de um processo de auto-transcendência e é pressuposto para que ocorra a iniciação, quando se recebe um novo nome com o qual passa a se apresentar diante do plano espiritual que o recebe como iniciando o caminho. A iniciação não é conferida pela bruxa/o mais experiente, ela é confirmada num rito onde o iniciado sela seu compromisso, mas depois da autorização do plano espiritual .