domingo, 13 de dezembro de 2015

In fetu

Eu sou um cirurgião. Com minha idade e experiência, já possuo uma vasta coleção de estranhos eventos médicos que já presenciei, porém... há apenas um evento que me perturba até hoje...
No outono de 1987, uma extremamente rara anomalia medica afetou um pobre garoto de sete anos que se chamava William. Eu trabalhava como cirurgião chefe na pequena cidade de Montrose, Colorado. William estava consultando o pediatra com queixas de fortes dores na barriga. Ele contou para os doutores que havia um “homem” vivendo dentro dele, e que o homem se recusava a deixa-lo em paz, dia ou noite. William contou que o homem o machucava em várias partes, como se o puxasse com cordas, feito uma marionete. O garotinho podia ser ouvido gritando e chorando na sala do doutor, implorando por um alívio para a terrível dor. Sua mãe estava muito preocupada e solicitou assistência. O doutor fez um exame completo e não percebeu nada de anormal. Ele aconselhou que a mãe o levasse para casa, e receitou analgésicos mais fortes.



Algumas semanas se passaram, com as dores do garoto piorando. O doutor ficou perplexo. Ele continuava sem encontrar anormalidades, receitando analgésicos cada vez mais fortes. Um dia, a mãe retornou para o doutor, dessa fez estava bastante frenética. Ela entrou gritando que o filho estava morrendo, e com hemorragia. William estava com sangue escorrendo pela boca, e se arrastando de joelhos, implorando que o doutor o matasse. Bastante assustado, o doutor o encaminhou para a emergência.

Foi quando ele chegou à minha área. Os doutores descobriram que ele possuía um grande tumor no abdômen, os raios x revelaram uma estranha formação em suas vísceras. Preparamos-nos imediatamente para a cirurgia. Eu e meu time nos organizamos imediatamente, e guiamos o garotinho na maca pelo corredor do hospital. Passamos apresados em direção à sala de cirurgia enquanto o garoto gritava para que cortássemos sua garganta.

Nos o anestesiamos enquanto ele gemia e implorava pela morte. Sua cabeça balançava de um lado para o outro como se ele estivesse negando algo constantemente. Ele se sacudia tanto que foi preciso dois doutores para segura-lo. Ele se acalmou e fechou os olhos apenas quando a anestesia fez efeito.

Chegamos à sala de cirurgia, e arrancamos sua camisa do Homem-Aranha. Peguei meu bisturi e fiz o corte em seu abdômen. A pele fina abriu-se facilmente e o sangue escorreu rapidamente, revelando veias e muco. Pude ouvi um som de esguicho vindo de suas entranhas. Nos preparávamos para abrir a incisão, quando o vimos...

Bem abaixo dos avermelhados músculos abdominais, um braço surgiu. A carne foi esticada e rasgada. Pedaços de carne e sangue espirraram em nossos rostos e aventais. Ficamos completamente mudos, petrificados e em choque. O braço era pequeno e frágil, vermelho, e viscoso. Ele repousou sobre as entranhas destruídas. Eu fiquei ali parado, de boca aberta. Minha respiração presa em algum lugar entre meus pulmões e a minha garganta. Finalmente consegui reagir, mesmo tremendo, agarrei o bisturi e aumentei o corte no abdômen.

Olhei para dentro, em meio á todo aquele sangue e carne, e vi um pequeno corpo enrolado, logo percebi que a coisa ainda era apenas um bebê. Pus minhas mãos em seu corpo mole e avermelhado, e tentei remove-lo. Ele se enrolou em minhas mãos e me encarou. Eu o puxei e o retirei do pobre garoto. O corpo daquela coisa estava completamente coberto de sangue. Ele tinha olhos pequenos e sem pupilas, e sua boca estava bem fechada. Ele permanecia encolhido. Ele não parecia uma criança, e sim um alien. O mais surpreendente era o fato daquela coisa não possuir um cordão umbilical.

Os outros doutores se afastaram com horror. Eu travei e não consegui falar. Eu juro que não estou mentido sobre o que aconteceu em seguida. O bebê olhou para mim e começou a abrir a boca. Ele se engasgou e começou a cuspir sangue. Ele começou a falar. Sua voz era... o que posso descrever como sinistra, a pura maldade. A coisa gritou claramente: “Matar! Matar! Matar! Matar!”

Arregalei os olhos e permaneci petrificado. Os doutores correram da sala em grande agitação. Um dos doutores gritou que havia um “bebê demônio” na sala de cirurgia.

O bebê ficou em minha mão, gritando mais e mais alto, repetindo a mesma palavra, tremendo ao utilizar suas forças para continuar gritando. Eu finalmente o larguei no chão. Ele caiu produzindo um som nojento e espalhando sangue. E então, de repente, ele se levantou. Aquela criaturinha ficou em pé me encarando, as luzes da sala de cirurgia faziam sua sombra esticar-se assustadoramente. Eu não conseguia falar, mas sabia que aquela coisa queria me matar. Com uma velocidade assustadora, ele pareceu mudar de ideia e escalou a janela, fugindo para algum canto desconhecido.

Vários policiais entraram na sala e me encontraram sozinho. Eu estava paralisado, minhas mãos banhadas em sangue. Rastros vermelhos se espalhavam pelo chão, seguindo para a janela e desaparecendo. Quanto à William, seu monitor cardíaco sem sinal, ele havia morrido por perda de sangue.

Uma investigação levou à conclusão que o garoto tinha sofrido uma rara condição chamada Fetus in fetu. Que é quando, durante a gravidez, gêmeos se desenvolvem e um é absorvido pelo outro, tornando-se um parasita. Porém, mesmo os melhores pesquisadores, nunca poderão explicar como o feto conseguia falar, ou se locomover. Seja o que fosse aquela coisa, não era humana.

Quanto ao paradeiro do “bebê demônio”, nunca foi descoberto.

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