terça-feira, 22 de dezembro de 2015

O Corvo

Às vezes, quando eu olhasse para o céu, eu o veria. Ele me seguiria, e me observaria. Ele parecia inofensivo, mas, um dia, eu o vi comendo as entranhas de um cachorrinho. Eu pensei que ele era um monstro. Meu único amigo era um monstro, assim como meu pai.
Eu me lembro de meu pai me batendo no rosto, me atirando contra a parede, e me surrando até eu não conseguir ver nada, só as penas negras do corvo, parecia que eu estava flutuando no meio delas. Mas quando ele me seguiu, parecia que ele não era mais meu amigo, mas outro alguém que queria me machucar...
Eu também me lembro de recostar minha cabeça sobre meu travesseiro, e de vê-lo pousado em um galho de uma árvore morta do lado de fora da minha janela. Ele me observarva com aqueles olhos que pareciam maldosos e, bem, cruéis. Então meu pai arrombou minha porta e fechou minhas cortinas escuras, e depois, eu pude ouvir o corvo voando para longe e então comecei a chorar.
Agora, em um riacho, sangrando compulsivamente, eu posso vê-lo olhando para mim lá de cima, e parece que ele está sorrindo. Ele está feliz porque meu pai se aproveitou de mim, e me largou pra morrer na água gelada? Eu nunca vou saber, mas a última imagem que vi foi ele, descendo para o meu lado. E eu pensei que ele estava ali para me confortar.
Mas ele simplesmente se atirou em meu estômago, assim como fez com aquele cachorrinho.

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